Encontramos fósseis em Marte?
POR SALVADOR NOGUEIRA
05/01/15
Analisando imagens de arquivo obtidas pelo
jipe robótico Curiosity, da Nasa, uma pesquisadora nos Estados Unidos diz ter
encontrado possíveis sinais de fósseis marcianos.
Imagem obtida pelo Curiosity em 2013 pode conter registros fósseis marcianos. Será? (Crédito: Nasa) |
É isso mesmo que você leu. Nora Noffke,
geobióloga da Old Dominion University, em Norfolk (EUA), apresentou a arrojada
hipótese num artigo publicado on-line pelo periódico “Astrobiology”. Segundo
ela, algumas das rochas fotografadas pelo rover parecem ter marcas
similares às deixadas por colônias de bactérias na Terra, conhecidas
genericamente pela sigla inglesa Miss (estruturas sedimentares induzidas por
micróbios). São como “tapetes” macroscópicos criados pelas minúsculas criaturas
ao ocupar uma determinada rocha.
Noffke é especialista nesse tipo de fóssil.
Foi ela a principal autora do trabalho que identificou os mais antigos traços inquestionáveis de vida em
nosso planeta, encontrados na Austrália. Eles têm 3,48 bilhões de anos de
idade. Já as rochas marcianas que ela analisou agora foram avistadas pelo
Curiosity em dezembro de 2012, quando ele chegou à formação geológica batizada
de Baía Yellowknife, no interior da cratera Gale. Análises feitas pelo jipe
mostram que ali houve um lago marciano que durou pelo menos até 3,7 bilhões de
anos atrás, quando se formaram os sedimentos da rocha conhecida como Lago
Gillespie, inspecionada visualmente pela cientista. Ou seja, estamos falando de
estruturas que parecem ter sido formadas por bactérias num local em que essas
criaturas de fato podem ter proliferado. Convenhamos, não parece nada absurdo.
Veja o que diz Noffke: “Na Terra, se essas
Miss ocorressem com esse tipo de associação espacial e sucessão temporal, elas
seriam interpretadas como o registro de crescimento de um ecossistema dominado
por micróbios que viveu em corpos d’água que mais tarde secaram completamente.”
VERIFICAÇÃO
Apesar da premissa convincente e das exaustivas comparações entre formações
similares em Marte e na Terra, Noffke alerta: por ora, trata-se apenas de uma
hipótese, que ainda precisa ser posta à prova e com isso ser confirmada ou
refutada.
Essa, aliás, é a principal razão para que
você não acredite cegamente em histórias de gente que vê pirâmides, animais e
até seres humanos em fotos marcianas. É muito fácil “enxergar” padrões em
cenários naturais — nosso cérebro é programado para identificar tudo que passa
pelos olhos com formas familiares. Por isso também vemos coisas em nuvens. Mas,
para confirmar qualquer percepção subjetiva, é preciso realizar novas
observações, com métodos diferentes. Um exemplo bom é a famosa “Face de Marte”,
em Cydonia. Uma imagem obtida pela sonda Viking em 1976 parecia revelar um
rosto esculpido no planeta vermelho. Mas só parecia. Posteriormente, outra
imagem da Viking e uma obtida pela orbitadora Mars Global Surveyor em
2001 sob outro ângulo de iluminação do Sol fizeram a “face”
sumir. Era só uma montanha comum mesmo. Quer outro exemplo? Aposto que você
enxergou dois olhos de um crânio na primeira imagem que ilustra essa matéria… Como
dizia Carl Sagan, “afirmações extraordinárias exigem evidências
extraordinárias”. Não acredite nas aparências e nas explicações fáceis. Sempre
verifique os fatos e submeta-os a testes alternativos. Esse não é um bom
conselho só para a ciência. É excelente para a vida cotidiana também.)
Infelizmente, o Curiosity já está muito
longe da Baía Yellownkife e não terá como fazer análises adicionais para
confirmar as observações superficiais feitas por Noffke. E a pesquisadora é a
primeira a admitir que os traços poderiam ter sido produzidos por processos
abióticos (ou seja, que não envolvem organismos vivos). Mas ela em particular
não parece convencida de que seja o caso, dadas as semelhanças com formações
estudadas na Terra. “Essa similaridade de associações marcianas e terrestres e
sua mudança ao longo do tempo seriam outra extraordinária coincidência, se seus
processos de formação forem diferentes.”
E agora, vamos ficar sem saber? Nem tudo
está perdido. O Curiosity está explorando as imediações do monte Sharp, muito
rico em rochas sedimentares, em tese também propícias à preservação de
registros fósseis. Tendo isso em vista, Noffke termina seu artigo apresentando
o “passo a passo” para que os pesquisadores da Nasa possam procurar novos traços
de Miss e desta vez se detenham mais diante deles, realizando análises químicas
que possam confirmar sua origem biológica. De acordo com a pesquisadora, os
minerais presentes podem dar pistas importantes. “Em Marte, poderia haver, em
estruturas candidatas, uma combinação muito diferente de minerais que é
claramente divergente da mineralogia das rochas circundantes e poderia indicar
biogenicidade.”
Diversos instrumentos do Curiosity poderiam
procurar esses sinais. Mas talvez uma conclusão definitiva só possa ser obtida
quando rochas como essas forem trazidas de Marte para a Terra. Uma missão
robótica de retorno de amostras é basicamente o clamor de todos os
astrobiólogos, mas ainda não está no cronograma de nenhuma agência espacial.
Apesar disso, a descoberta de sinais de
vida, ainda que extinta, em Marte parece cada vez mais próxima. No fim do ano
passado, o Curiosity detectou pela primeira vez plumas de metano — um gás que
pode ou não estar associado a atividade biológica — emanando do solo do planeta
vermelho. Sua posterior investigação é um possível caminho para a busca pelos
marcianos. Noffke, agora, abre uma segunda rota. Quanto mais trilhas a seguir,
maior a chance de sucesso.
Talvez você não se anime muito com o que
seriam apenas criaturas unicelulares. Quem se importa com bactérias? Bem, note
que a descoberta de vida extraterrestre, de qualquer tipo, já trará consigo uma
revolução. Ela confirmará a desconfiança dos cientistas de que a biologia emerge
sempre que as condições são favoráveis. Se aconteceu até em Marte, um planeta
apenas marginalmente habitável, que não diremos de outros mundos fora do
Sistema Solar que sejam similares à Terra?
Fonte: http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2015/01/05/encontramos-fosseis-em-marte/
2 comentários:
Olá amigo, aceita parceria de links?
http://realidadeblog.com
abraço
Será que só eu vi os seres que lembram marsupiais na imagem? À direita do centro encima da rocha grande, ao fundo superior no centro e na extrema esquerda ao pé da pedra aquilo que me parece um filhote.
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